O atípico dia de quase verão anda pela metade. O frio
intenso no mês de novembro, à ela, reforça a sensação de
descompasso.
Chega ao colégio para buscar seu filho.
Equivocara-se. Não é quarta-feira como ela acredita. Já é o dia seguinte.
Na quinta, ele tem uma aula a mais. Há que esperar por cinquenta minutos. Decide
tornar a espera agradável. Estaciona o carro e entra no Café da esquina para
tomar um chocolate quente.
Apenas uma mesa está ocupada por um grupo de alunos
que cabulam a mesma sexta aula. Já os conhecia de vista. Duas meninas e dois
meninos na casa dos quinze, dezesseis anos, ela deduz. É a faixa etária dos
componentes dessa classe.
Senta-se à mesa ao lado. Diverte-se imaginando essas
criaturas como filhos seus. Como seriam, questiona com seus
pensamentos?
- Pô cara, qual é essa de amor?. Amor não existe. É
um truque sujo da natureza para a perpetuação da espécie, já dizia o rei do
mau-humor, Schopenhauer, antes de meu tataravô ter nascido. Diz em tom
definitivo o menino que lembra o Di Caprio. O outro, com cara de Harry Potter
sem os óculos, piercing atravessando a sobrancelha esquerda, expressa
ceticismo. Entretanto, não contesta.
- Amor?...Coisa de gente mala. Não conhece a teoria
da assistência mútua? Indaga a menina minhonzinha, usando calça de cintura
um palmo abaixo e casaquinho um palmo acima do umbigo perfurado por um
piercing com pingente de brilhante. A outra garota, cabelos longos e
avermelhados, olhar evasivo, está alheia à conversa. Seu mundo vai e vem na
sequência das bolas do chiclete que fabrica e estoura.
Diante dos olhares interrogativos dos meninos ela
explica com ares de palestrante. - E assim: o homem procura poder. A mulher
procura dinheiro. Pra que que o homem quer poder? - Pra ganhar a mulher e fazer
sexo com ela. A mulher procura um homem com poder e dinheiro pra que? - Pra
fazer sexo, pegar o dinheiro dele, ficar fazendo ginástica, compras, ir no
cabeleireiro, ficar gostosona e procurar outro homem com mais dinheiro...Ah!, e
o homem fica muito feliz porque ele tem dinheiro e um carrão pra se achar com as
mulheres. Não entenderam? Pergunta desafiadora e, sem
esperar resposta, continua decidida em seu pressuposto
filosófico.
Vou explicar de um jeito que entendam: Lembram da
aula de Biologia sobre líquens? Então, é o mesmo princípio: Os fungos fornecem
nutrientes para as algas. As algas fornecem água para os fungos para que eles
não se desidratem e morram. Eles se ajuntam e formam os líquens pela teoria da
assistência mútua.
Ela remete-se aos seus quinze anos. Não se lembra da
matéria de Biologia naquele tempo. O que vem à sua memória são as aulas de
Literatura. Shakespeare. Romeu e Julieta.
- Seu chocolate vai esfriar... A traz de volta a
fala calma do garçon. - É. Vai esfriar. Ela responde.
E agradece. - Deixo aqui o dinheiro. Fica com o
troco.
Ela deixa o Café e vai esperar por seu filho no portão.
Tem urgência em perguntar-lhe o que ele pensa sobre
amor.
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